Amor à pátria Ó grande país Tu aderiste também. Teus urubus são inquietados Nos teus ares altíssimos pelos aviões. Nos teus céus os anjos já não podem solfejar, Sufocados de fumaça, importunados pelo pessoal Do Limbo. Tu vais ficar irremediavelmente Toda a América Irremediavelmente gêmeo, Irremediavelmente comum. Mulher proletária Mulher proletária — única fábrica que o operário tem, (fabrica filhos) tu na tua superprodução de máquina humana forneces anjos para o Senhor Jesus, forneces braços para o senhor burguês. Mulher proletária, o operário, teu proprietário há de ver, há de ver: a tua produção, a tua superprodução, ao contrário das máquinas burguesas salvar o teu proprietário. Cristo Redentor do Corcovado O avô de minha avó Morreu também corcovado Carregando um cristo de maçaranduba Que protegia os passos vagarosos da família. Arranjei velocidade. Virei homem de cimento armado. Adoro esse Cristo turista De braços abertos Que procura equilíbrio Na montanha brasileira. Os homens de fé têm esperança n' Ele, Porque Ele é ligeiro, porque Ele é ubíquo, Porque Ele é imutável. Ele acompanha o homem de cimento armado Através de todas as substâncias, Através de todas as perspectivas, Através de todas as distâncias. Pelo silêncio Pelo silêncio que a envolveu, por essa aparente distância inatingida,pela disposição de seus cabelos arremessados sobre a noite escura: pela imobilidade que começa a afastá-la talvez da humana vida provocando-nos o hábito de vê-la entre estrelas do espaço e da loucura; pelos pequenos astros e satélites formando nos cabelos um diadema a iluminar o seu formoso manto, vós que julgais extinta Mira-Celi observai neste mapa o vivo poema que é a vida oculta dessa eterna infanta. Essa pavana Essa pavana é para uma defunta infanta, bem-amada, ungida e santa, e que foi encerrada num profundo sepulcro recoberto pelos ramos de salgueiros silvestres para nunca ser retirada desse leito estranho em que repousa ouvindo essa pavana recomeçada sempre sem descanso, sem consolo, através dos desenganos, dos reveses e obstáculos da vida, das ventanias que se insurgem contra a chama inapagada, a eterna chama que anima esta defunta infanta ungida e bem-amada e para sempre santa. |
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Jorge de Lima: Quinteto 1
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